quarta-feira, 17 de março de 2010

Negócios deixam o balcão e vão parar no e-commerce

Brasil tem 22,3 milhões de e-consumidores, número que chegará a 30 milhões até o final do ano.

Novo Hamburgo - A quinta letra do alfabeto latino ganhou novos valores no universo digital. E-commerce, e-consumidor, e-CPF, e-CNPJ, e-business...são apenas algumas expressões que mostram como os negócios deixaram o balcão e foram parar nas "prateleiras" da Internet. Com 70 milhões de internautas, o Brasil começou o ano com 22,3 milhões de compradores on-line, cujo tíquete médio é de R$ 379,00 por compra. Números que tendem a chegar à casa dos 30 milhões ainda em 2010, com projeções de crescimento de 30% ano a ano, conforme a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. Resumo: a Internet é uma mina de ouro para o varejo, que pode vender de tudo, desde um carro até um sapato.


O consultor do Comitê de Varejo Online da Câmara-e.net, Gastão Mattos, disse que a Internet é um mercado exponencial no Brasil. Hoje, tudo que é vendido online representa 2%, os outros 98% são comprados em lojas físicas do varejo. "Há muito para crescer. Na linha do tempo, podemos imaginar que em um horizonte de cinco anos chegaremos a 5%." Para se ter um parâmetro da dimensão de tal projeção, atualmente as vendas feitas pelo canal online para cerca de 100 milhões de pessoas nos Estados Unidos têm o peso de 5%.



NADA DE GURU - Vender pela Internet não é mais uma aposta, nem coisa de guru. "É um caminho que não tem mais volta. A participação no mundo online está em curva ascendente, podendo chegar a 40%", sentenciou Mattos. Segundo ele, alguns especialistas acreditam que se chegará a um ponto de saturação, quando a migração das vendas para este canal perderá a intensidade, ficando estabilizada. "É difícil de prever prazos, isso pode ser daqui a 10 ou mais anos."



Diluição na rede é a boa notícia

Para não correr o risco de ver esse trem-bala passar, mais e mais empresas, independentemente do porte, estão ingressando no mundo digital. Existem 30 mil CNPJs (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) vendendo produtos ou serviços on-line. "O comércio eletrônico tem apenas 13 anos no Brasil. Há quatro, as 20 maiores lojas respondiam por 90% das vendas. Hoje, elas detêm 70%. Isso é uma boa notícia, pois sinaliza que está ocorrendo uma diluição dos negócios. Ou seja, um processo de descentralização em que mais lojistas estão ganhando participação", apontou Gastão Mattos.
 No ano passado, as vendas online renderam cerca de R$ 10,5 bilhões em faturamento somente para o varejo de bens de consumo – não entram nesta conta passagens aéreas e nem leilões. A previsão para este ano é um crescimento de 25% desta receita, conforme o consultor do Comitê de Varejo Online.


Mesmo com as projeções de crescimento, Mattos não acredita em perdas de empregos no comércio físico – até porque as empresas precisarão de mão de obra qualificada para administrar as lojas virtuais. "Deve acontecer um redirecionamento dos investimentos."

Digital, multicanal e global


As mudanças dos hábitos de consumo e do relacionamento entre marcas e clientes também remeteu o comprador online para um novo estágio: passou a ser chamado de neoconsumidor. Além de ter acesso às lojas físicas, ele está em contato com canais de venda digitais, como Internet, TV interativa e celular. Ou seja, antes de efetivar uma compra, ele já pesquisou muito.


- 92% dos entrevistados brasileiros fazem compras pela Internet, enquanto a média global é de 88%


- 73% dos brasileiros utilizam ferramentas ou sites para comparar preços, enquanto a média mundial é de 52%


- 53% ficam desapontados se suas lojas preferidas não vendem pela Internet


- 53% dos consumidores rejeitam lojas que não utilizam sites; a média mundial é 34%




- 42% dos entrevistados têm interesse em receber promoções e propaganda pelo celular, enquanto globalmente a média foi de 17%. A classe D brasileira foi a que se mostrou mais receptiva, com 51%, seguida pelas classes E (50%) e C2 (43%)


* Pesquisa on-line da GS&MD - Gouvêa de Souza, em parceria com o Ebeltof – International Retail Experts, em 11 países (5,5 mil entrevistas), mais trabalho de campo no Brasil com 500 entrevistas em São Paulo, Recife e Porto Alegre. O levantamento estudou tendências do consumo e o comportamento de compra em quatro setores: alimentação, eletrônico, vestuário e beleza.


- Estar fora do e-commerce é desconhecer o que este novo consumidor quer e precisa


- O número de pequenos negócios com sites básicos tem crescido muito, mas o que o novo consumidor quer é, no mínimo, que a sua loja preferida, exponha-se, coloque os seus preços e venda os seus produtos pela Internet




- As novas tecnologias são acessíveis a qualquer tipo de empresa


- A comunicação do pequeno varejo com o consumidor precisa ser rápida. Isso é fundamental para fidelizar o cliente, aumentar as vendas, vencer a concorrência e crescer sustentavelmente




- Os varejistas devem oferecer algo a mais, como um serviço de entrega mais rápido ou uma garantia estendida. É necessário, também, ter uma estratégia multicanal



- Ganhar um consumidor passou a ser no "boca a boca digital", o que reduz o espaço do marketing tradicional. Este movimento exige que as empresas revejam suas estratégias de comunicação


Anote


- O poder de fogo do e-commerce pode ser balizado na comparação com o home banking, que sempre cresceu mais que o comércio eletrônico no Brasil


- Hoje, 35 milhões de pessoas fazem alguma operação bancária por esse sistema, cuja tendência é estabilizar, segundo a Câmara-e.net


- Já as compras on-line, pela primeira vez, devem ultrapassar este número em 2011

Confiança


- Se o comércio eletrônico brasileiro vai de vento em popa, também o consumidor está satisfeito com o que vem encontrando na Internet. De acordo com o Índice de Confiança do e-consumidor, desenvolvido pela e-bit em parceria com a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, o índice de aprovação é de 86,28% neste começo de ano – patamar que só foi alcançado em abril de 2009


- O indicador é resultado de 50 mil entrevistas que são realizadas todos os meses, em uma série que já acumula 13 meses. Enquanto nos Estados Unidos a satisfação chegou ao pico de 82%, o Brasil superou este porcentual, o que demonstra que o varejo brasileiro está preparado para atender às necessidades do e-consumidor.

E-flation


- É o índice de inflação na Internet
- A compra de produtos na rede pode gerar inflação. Mas, de acordo com Gastão Mattos, da Câmara-e.net, não há como ficar aumentando muito os preços, porque o lojista corre o risco de perder share (mercado), já que o comprador on-line tem como buscar preços de forma muito rápida. "Esse é um fator é sensível na competição on-line."




Carrinho de compras chega na fábrica de calçados



Enquanto para muitos segmentos as vendas eletrônicas já são realidade, a maioria das fábricas de calçados ainda não descobriu o filão de ter sua própria


Loja virtual – o que existe são sites multimarcas que comercializam estes produtos. Este não é o caso da Calçados Bibi, de Parobé. A produtora de calçados infantis disponibiliza carrinho de compras na rede para o consumidor final desde o ano passado. "Uma empresa que acredita na construção da marca precisa estar em multicanais", comentou a gerente da área comercial da Bibi, Andréa Kohlrausch.



Segundo ela, como esta experiência ainda é nova para a calçadista não há como traçar parâmetros comparativos de vendas. Mas isso não impediu a indústria de perceber que as vendas vêm numa crescente mês a mês. "Há um crescimento constante no comércio virtual."

Ao observar que as vendas virtuais ainda não têm muita participação na produção – hoje de 3,2 milhões de pares por ano – Andréa ressaltou que essa é uma forma da empresa ficar mais próxima do consumidor final. "Essa estratégia de negócios on não inviabiliza e nem é concorrente com o comércio off. Bem pelo contrário, a Internet está servindo como ferramenta de apoio para as vendas no balcão, já que muitas pessoas entram no site para pesquisar modelos no catálogo e depois comprá-los em uma loja física", argumentou a gerente comercial.


CAMINHO - Mesmo sendo o negócio próprio on-line ainda uma novidade no setor, as indústrias calçadistas não estão deixando a Internet de lado. A forma encontrada foi canalizar os produtos para sites especializados, que trabalham com calçados multimarcas e têm estrutura de operacionalização, não demandando tempo do fabricante para gerenciar atividades (entregas, trocas...).




Passando o cartão


A facilidade em obter cartões de crédito e parcelar as compras, nos últimos anos, tornou-se um elemento importante no comércio digital. Os bancos que o digam. O Banrisul prevê um crescimento nas compras online com o cartão Banricompras na ordem de 30% ao mês. "Somente nos dois primeiros meses do ano, foram movimentados cerca de R$ 3 milhões com o cartão em lojas virtuais", disse Carlos Malafaia, supervisor da Unidade de Canais Eletrônicos do Banrisul.


Ainda segundo ele, dentro dessa estratégia de se aproximar mais do cliente, a instituição está fechando parcerias com duas grandes lojas online com vantagens exclusivas para o detentor do cartão do Banrisul. "É algo grande e que será divulgado em breve." Já na linha do home banking, o banco registrou, em janeiro, 10,5 milhões de transações, que movimentaram R$ 10,8 bilhões.

Fonte: Jornal NH 16/03/09

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